A física dos semicondutores revolucionou a sociedade moderna ao possibilitar a construção de dispositivos e máquinas cada vez menores e mais potentes. E como tudo isso começou?
Nas pesquisas iniciais com transmissão de ondas de rádio, no fim do século XIX, os cientistas conseguiram codificar e transmitir sons na forma de ondas eletromagnéticas. No entanto, para detectá-las à distância, havia dois problemas: o primeiro, era retirar a informação da onda que a carregava. O segundo, era que a onda chegava com baixa intensidade.
Em 1904, o físico inglês John Ambrose Fleming criou a chamada válvula diodo, que retificava a onda e entregava a informação de volta. Por sua vez, o americano Lee De Forest inventou, no ano de 1906, a válvula triodo, que amplificava a informação, gerando o som novamente em volume suficiente para ser utilizado em aplicações práticas. "A válvula constitui, portanto, um amplificador de sinal elétrico, tendo sido utilizada em vários aparelhos elétricos, como os amplificadores de som e as primeiras televisões", explica Belita Koiller, do Instituto de Física naUniversidade Federal do Rio de Janeiro, em seu artigo "A Arquitetura da Matéria.
Iniciava-se, assim, a Era da Eletrônica, com o advento, a partir das válvulas, do rádio, da televisão e dos computadores. O Eniac (Electronic Numerical Integrator And Computer), o pai de todos os computadores eletrônicos, possuía 17.468 válvulas (além de 6.000 chaves manuais, através das quais ele era programado) e media cerca de 50 metros. Mas os fundamentos estavam plantados.Nas pesquisas iniciais com transmissão de ondas de rádio, no fim do século XIX, os cientistas conseguiram codificar e transmitir sons na forma de ondas eletromagnéticas. No entanto, para detectá-las à distância, havia dois problemas: o primeiro, era retirar a informação da onda que a carregava. O segundo, era que a onda chegava com baixa intensidade.
Em 1904, o físico inglês John Ambrose Fleming criou a chamada válvula diodo, que retificava a onda e entregava a informação de volta. Por sua vez, o americano Lee De Forest inventou, no ano de 1906, a válvula triodo, que amplificava a informação, gerando o som novamente em volume suficiente para ser utilizado em aplicações práticas. "A válvula constitui, portanto, um amplificador de sinal elétrico, tendo sido utilizada em vários aparelhos elétricos, como os amplificadores de som e as primeiras televisões", explica Belita Koiller, do Instituto de Física naUniversidade Federal do Rio de Janeiro, em seu artigo "A Arquitetura da Matéria.
As limitações
Apesar dos avanços tecnológicos conquistados com a descoberta das válvulas, logo suas desvantagens começaram a ser percebidas. Elas "apresentam limitações severas: os feixes de elétrons transitam em tubos de vidro que são volumosos e frágeis, além das altas temperaturas requeridas para que os filamentos metálicos emitam os elétrons, gerando forte aquecimento e dissipação de energia", escreve Belita Koiller, no artigo já citado. A isso, juntam-se a incapacidade das válvulas em lidar com altas temperaturas e a sua curta vida útil.
Dessa forma, novos estudos dedicaram-se ao aprimoramento da tecnologia, especialmente as pesquisas ligadas à tecnologia de guerra, que exigia equipamentos menores e que operassem a freqüências mais elevadas. Foi quando John Bardeen, Walter Brattain e William Shockley, três cientistas dos laboratórios Bell, resolveram voltar seus olhares para a época dos antigos rádios a cristal, pois sabiam que, ao contrário dos equipamentos a válvula, os velhos rádios experimentais a cristal eram capazes de detectar as altas freqüências. O interesse deslocou-se, então, para a descoberta do físico Ferdinand Braun, que dizia que cristais podiam transmitir eletricidade num único sentido.
O caminho iniciado pelos três cientistas no intuito de investigar as propriedades dos cristais mostrou-se correto. As pesquisas começaram com cristais semicondutores de silício e germânio e levaram à invenção do transistor, o substituto das válvulas, pois ele realizava de maneira mais eficiente o trabalho de válvula, principalmente no que se refere ao consumo de energia.
A estrutura cristalina dos semicondutores
"O silício possui quatro elétrons em sua terceira e última órbita, sendo por isto chamado de tetravalente. Dessa forma, cada átomo de silício pode estabelecer até quatro ligações covalentes com outros átomos. Unindo-se entre si, os átomos de silício formam uma rede cristalina cúbica, semelhante à do diamante, muito estável. O cristal de silício assim formado tem cor cinza escuro, lustrosa", explica Agostinho Rosa, mestre em Administração e Política de Recursos Minerais, em seu site de divulgação científica.
Suponhamos que um elétron escape dessa rede cristalina. Isto, na verdade, acontece normalmente, em pequena escala, pela ação do calor à temperatura ambiente. No entanto, é possível aumentar a ocorrência dessas "escapadas" através de uma técnica chamada dopagem. "Dopar um cristal significa introduzir um elemento estranho em sua rede cristalina", ensina Rosa.
Mas o que acontecerá se for introduzido no cristal um átomo de elemento com cinco elétrons na última camada? O novo átomo se encaixará na estrutura, ligando-se a quatro átomos de silício, e sobrará um elétron livre. Ou seja, o cristal terá mais elétrons do que lacunas, ficando, assim, com energia predominantemente negativa, e será chamado de tipo N (de negativo).
Já no caso de doparmos o cristal com um elemento de três átomos na última camada, ele terá mais lacunas do que elétrons, isto é, energia predominantemente positiva, e receberá a denominação P (de positivo).
Os semicondutores começam a substituir as válvulas no momento em que se une um pedaço de material do tipo N com um pedaço de material do tipo P. Essa junção forma um componente eletrônico chamado diodo, que substitui a válvula de mesmo nome. A característica básica do diodo é permitir a condução da corrente elétrica em apenas um sentido.
O transistor, um componente semicondutor
O transistor resulta da união de dois diodos e foi produzido pela primeira vez em 1947, 11 anos após o início das pesquisas com semicondutores, pela equipe dos laboratórios Bell - que inclusive ganhou o prêmio Nobel de Física, em 1956.
Em poucos anos, o invento se disseminaria por todo o parque industrial e permitiria uma onda de inovações tecnológicas sem precedentes. "Os rádios portáteis, então tornados possíveis, traziam estampada a expressão 'Solid State' (estado sólido), em referência à ausência de válvulas, já que seus circuitos eram construídos com cristais (sólidos, sem vácuo ou preenchimento com gases)", conta Rosa.
"O controle de sinais elétricos por transistores permite sua aplicação tanto em circuitos amplificadores quanto em circuitos lógicos. No caso de operações lógicas, o transistor funciona como uma chave, que abre e fecha um circuito elétrico fornecendo os bits 0 ou 1 conforme os sinais recebidos. Os chips dos computadores modernos são circuitos integrados (CI), isto é, fabricados em um único 'bloco' de silício e contendo dezenas de milhões de transistores", ensina Belita Koiller, professora da UFRJ.
Mais eficiente, mais barato, menor e gastando muito menos energia do que sua antecessora - a válvula -, o transistor permitiu a diminuição do tamanho dos equipamentos eletrônicos e conduziu a um dos mais importantes e bem sucedidos caminhos de transferência do conhecimento científico puro para a aplicação no desenvolvimento social.
"A descoberta do efeito transistor e sua posterior utilização como substituto das válvulas tornaram clara a alta potencialidade tecnológica dos materiais semicondutores e inegavelmente foram fundamentais para que esses materiais alcançassem a importância que hoje detêm".